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22/09/2022
Parecer sobre bebê italiano vegano à beira da morte
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PARECER DA SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA
“Alimentação vegana deixou bebê italiano à beira da morte”
Matéria publicada na imprensa italiana e reproduzida internacionalmente menciona a dieta vegana como suposta causa de desnutriçã o infantil e agravamento de uma cardiopatia grave
– A dieta vegetariana estrita, por muitos chamada de vegana, é saudável e segura para uma criança?
– Uma criança que se alimenta sem produtos de origem animal pode crescer e se desenvolver adequadamente?
Qualquer dieta, vegetariana ou não, para promover o crescimento e desenvolvimento adequado a uma criança, deverá ser bem planejada e equilibrada, incluir alimentos variados e de diferentes grupos alimentares e ser sempre orientada por um profissional de saúde qualificado.
Várias entidades internacionais (Academia Americana de Pediatria, Sociedade Canadense de Pediatria, Associação Dietética Americana e o Comitê Médico por uma Medicina Responsável) não só têm pareceres favoráveis ao vegetarianismo, como também afirmam que uma dieta vegetariana estrita bem planejada pode ser adotada em qualquer fase da vida – incluindo a infância – pois, além de permitir o crescimento e desenvolvimento adequados, ainda atua na prevenção de diversas doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e alguns tipos de câncer.
No Brasil, mais de 40% das crianças menores de 7 anos apresentam anemia por deficiência de ferro – e a imensa maioria dessas crianças não são vegetarianas. Além disso, a obesidade infantil por aqui mostra números assustadores, com 33,5% das crianças entre 5 e 9 anos apresentando excesso de peso. A obesidade, ao contrário do que muitos pensam, também é uma forma de desnutrição.
De acordo com diversos estudos, a melhor maneira de se promover o crescimento e desenvolvimento adequados a uma criança é através do fornecimento de calorias adequadas a cada faixa etária, o que é perfeitamente conseguido através de uma alimentação vegetariana estrita bem planejada.
A criança referida, segundo dados da própria matéria, apresenta uma cardiopatia grave que necessitava de correção cirúrgica. Então, vamos entender as implicações dessa doença de base (cardiopatia).
Crianças com cardiopatia apresentam-se em até 80% dos casos com desnutrição energético-calórica e 1/3 dessas crianças cardiopatas apresentam algum déficit nutricional no decorrer dos anos.
Assim sendo, bebês que nascem com uma cardiopatia congênita merecem uma atenção especial e cuidados intensivos, que incluem muitas vezes a administração de alimentação através de uma sonda pois qualquer esforço, ainda que para se alimentar, pode agravar ainda mais o quadro. Outros cuidados incluem visitas regulares e frequentes ao pediatra, cardiopediatra, nutrólogo e nutricionista, uso de medicamentos diariamente suplementação vitamínica (A, D, E, K) e uma alimentação com uma maior oferta de calorias e restrição de líquidos.
O bebê da matéria não recebia acompanhamento médico nenhum – o que, para uma criança que nasce saudável, já seria bastante comprometedor. Imagine-se, então, o risco da falta de acompanhamento para um bebê que nasce com uma doença que necessita de correção cirúrgica! Além disso, sua alimentação não era orientada por nenhum profissional de saúde; seus pais lhe ofereciam os alimentos que eles mesmos consideravam adequados, comprometendo ainda mais o quadro clínico da criança.
O relato dos pais afirmando que a alimentação oferecida à criança era “vegana” merece no mínimo um olhar mais cauteloso. Diversas dietas pouco comuns são ditas por leigos simplesmente como “veganas”, mas a matéria não é clara sobre quais alimentos eram oferecidos à criança; apenas menciona que a criança era privada de leite e derivados, e que isso foi a causa dos baixos níveis sanguíneos de cálcio encontrados. O cálcio oriundo do leite apresenta uma absorção bem inferior ao cálcio de origem vegetal (32% contra 40-64%) e diversos estudos questionam o leite e derivados como melhores fontes de cálcio, devido à melhor absorção e retenção pelo nosso organismo do cálcio de origem vegetal.
Além disso, a alimentação vegetariana estrita também contempla e estimula o aleitamento materno – e, no caso da impossibilidade de amamentação, fórmulas infantis à base de soja se mostram bastante eficazes e seguras na substituição ao leite materno, promovendo crescimento e desenvolvimento semelhantes ao de bebês em aleitamento materno ou em uso de fórmulas infantis à base de leite de vaca. Após os 6 meses, a introdução de alimentos sólidos deverá ser feita de maneira cuidadosa e gradual, sempre orientada por um profissional de saúde qualificado e prestando-se muita atenção à qualidade dos alimentos oferecidos para que forneçam as calorias e todos os nutrientes necessários à criança em desenvolvimento.
Antes de taxar a dieta vegana como causa de desnutrição, é preciso primeiramente analisar quais alimentos estavam sendo oferecidos, sua qualidade nutricional e se o total de calorias recomendada para a idade estava sendo respeitado. Qualquer julgamento sem essa avaliação é no mínimo preconceituoso e carente de bases científicas.
Parecer elaborado por: Dra. Fernanda de Luca (CRM-RJ 52.69623-4), pediatra com residência médica pelo Hospital Municipal Salgado Filho (RJ) e nutróloga com título de especialista pelo CFM e ABRAN
Com colaboração de: Dra. Alessandra Luglio (CRN-3 6893), nutricionista clínica especializada em vegetarianismo
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