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22/09/2022

SVB Entrevista – Dia do Fisioculturista com Felipe Garcia

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1. Há quanto tempo você é vegano? Como foi o período de transição?

Sou vegano há, aproximadamente, 3 anos.

O período de transição foi um pouco conturbado, pois não sabia o que comer. Perdi peso e massa muscular, meu rendimento caiu nos treinos e sentia-me fadigado. Decidi abolir a carne animal de um dia para o outro e não me atentei ao deficit calórico, afinal, eu consumia 1kg de peito de frango e 20 claras de ovos por dia.

Nesse tempo, as pessoas diziam que esses sintomas eram pela falta de proteína animal, só que não. A queda no desempenho como atleta foi pela falta de calorias e planejamento alimentar. Tudo era novo, não procurei ajuda de um profissional de nutrição e esse foi meu maior erro. Porém, mesmo diante dessas adversidades, estava decidido a nunca mais comer carne animal, independentemente se essa decisão comprometeria minha carreira como atleta.

 

2. Qual a principal causa que lhe fez se tornar vegano? A causa ambiental, animal ou alimentar?

Causa Animal. Um dia, vi uma foto em uma postagem da Luisa Mell que mostrava a tristeza de um cão filhotinho e o olhar de desilusão de sua mãe presa a uma jaula, que, posteriormente, seria abatida.

Aquela imagem me marcou. A carinha da mãe e seu olhar me trouxeram lembranças de um cachorrinho que tive e que infelizmente foi atropelado na minha frente, por imprudência da minha parte.

Ao levá-lo no veterinário, ele me olhava triste, e esse foi o mesmo olhar da mãe presa na jaula. Fiz a ligação com a imagem do post e refleti sobre aquilo, até que cheguei à conclusão que mudou minha vida para melhor: “Se eu amo uns, por que como outros?”

Desse dia em diante, decidi não comer mais carne. E assim foi. Virei ovolactovegetariano por apenas 3 semanas e logo parti para o veganismo, pelo amor aos animais, por sentimento. Atualmente, luto não só pelos animais, mas pelos humanos e por um mundo melhor para todos!

 

3. Qual a sua principal satisfação em ser vegano?

Ser vegano é maravilhoso. O veganismo me traz paz, reflexão e sentimentos edificantes. Não há satisfação melhor do que saber que faço parte de uma causa digna e justa aos animais e ao planeta. Deitar na cama e refletir sobre o impacto que causo nas pessoas, atraindo-as para o veganismo, não tem preço. E desempenhar o papel do ativismo animal para que eles sejam livres, felizes e repletos de uma vida com amor, enche-me de otimismo e vontade de lutar mais e mais.

 

4. Você começou a fazer musculação com quantos anos? Naquela época, você já imaginava a proporção que isso teria na sua vida? 

Comecei na musculação aos 19 anos. Nunca imaginei que minha vida mudaria a partir da academia. Sempre treinei para me sentir melhor física e psicologicamente. Assistia a fisiculturistas da época e identificava-me, queria ser igual, mas sem pensar em campeonatos, ser atleta, exibir meu corpo para o público.

Até que, um dia, alguns amigos me convenceram a participar de um campeonato de fisiculturismo. Relutei um pouco e aceitei o desafio. Com medo e dor de barriga, mas aceitei (rs). Depois do acontecimento, eu amei a adrenalina do palco e a preparação como um todo. E, quando o veganismo entrou em meu coração, essa motivação para competir aumentou drasticamente. Levar a bandeira vegana em competições com atletas que se alimentam de proteína animal e mostrar que é possível ter músculos e definição alimentando-se de proteína vegetal é sensacional, ainda mais nesse esporte em que o consumo de carnes, ovos e suplementos à base de leite de vaca é enorme.

 jandira

 

5. O que o fisiculturismo significa na sua vida?

Corpo e mente em harmonia.

 

6. Você tem dificuldades em ser um atleta vegano?

Definitivamente, não. Sem demagogia, sou muito mais feliz como atleta vegano do que quando era atleta onívoro. Minhas preparações são prazerosas. Os alimentos proteicos vegetais, assim como outros nutrientes, são de rápida absorção e liberam mais hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar, sem contar a variedade e a quantidade de alimentos que posso incluir em minhas refeições.

 

7. Você é um atleta vegano fisiculturista. O que você costuma escutar das pessoas? Elas reagem de maneira negativa?

Sofri bastante preconceito no início do veganismo, de colegas da academia e de atletas fisiculturistas. Para eles, era um absurdo um vegano ganhar músculos ou definir comendo carboidratos em grande quantidade, já que os alimentos proteicos são acompanhados desse nutriente.

Depois de alguns meses, eles me apoiaram, pois viram na prática o desenvolvimento da minha musculatura, o aumento do desempenho nos treinos e a qualidade corporal. Viram ao vivo que é possível ser um atleta fisiculturista e que nossas proteínas e nosso estilo de vida são compatíveis em qualquer modalidade. Isso fez com que o tabu fosse quebrado e ganhasse o respeito deles, afinal, passei a ser referência dentro e fora da academia. Entrava um aluno novo e já me apontavam dizendo que eu era vegano (rs). Muitos alunos e profissionais até aderiram a fontes de proteínas vegetais em suas refeições, fato que me deixou muito feliz.

Atualmente, não vejo reação negativa, pelo contrário, o preconceito deixou de ser pré para ser conceito.

 

8. Você foi o primeiro atleta fisiculturista vegano a conquistar um campeonato no Brasil. O que essa vitória significou na sua vida? Foi possível provar para todos que um atleta pode sim ser vegano e saudável, não é verdade? 

Foi uma surpresa. Não esperava que o resultado fosse o primeiro lugar. Queria competir nesse campeonato para levar a causa vegana aos palcos, então, se eu ficasse entre os seis primeiros atletas seria uma vitória e tanto. E, para espanto de todos, inclusive meu, fui campeão ganhando de vários atletas onívoros.

Essa vitória significou tudo em minha vida. Minhas redes sociais aumentaram rapidamente. Pessoas me procuravam para agradecer e elogiar. Várias entrevistas sobre o fisiculturismo vegano foram publicadas em sites, blogs, filmagens, revistas, entre outros meios. O veganismo ficou no ápice. Todos puderam conhecer mais sobre as proteínas vegetais e seus benefícios, assim, quebrando paradigmas e o preconceito sobre elas.

Se o sonho de todo vegano é atrair o máximo de pessoas para conhecer a filosofia de vida e a refletir sobre os animais e o planeta, meu objetivo foi atingido com essa popularidade pós-campeonato. Ainda mais em um esporte em que o consumo de proteína animal é predominante.

Em resumo, a vitória não foi minha, foi nossa, da nossa causa, do nosso veganismo, e sou grato por ter feito parte disso.

 

9. Como funciona sua dieta? É difícil conciliar com a rotina de treinos?

Costumo fazer as dietas pré-competição com alimentos baratos e de fácil acesso. Basicamente, utilizo as fontes proteicas do feijão, lentilha, grão-de-bico, tofu, PTS e soja, além das proteínas vegetais em pó do arroz e da ervilha. Consumo carboidratos como arroz, batatas, mandioca, frutas, legumes e verduras em geral. Oleaginosas, como castanhas, nozes, amendoim, amêndoas, e fibras, como linhaça, aveia, chia, etc.

Esses alimentos são fáceis de conciliar com os treinamentos. Dependendo da fase em que estou, seja hipertrofia (ganho de massa muscular), potência (treinamento de força) ou pré-competição (definição muscular), manipulo os alimentos variando na quantidade e nas calorias. Não tem segredo, quer definição, coma menos calorias, quer ganho de massa, oferte ao seu corpo mais calorias.

 

10. Uma orientação profissional é fundamental. Quais foram as principais preocupações com a sua alimentação?

Como disse anteriormente, no início, não procurei um profissional de nutrição e isso me causou alguns pontos negativos como atleta. Depois que pesquisei e montei minha dieta, os resultados benéficos começaram a surgir. Mas digo e oriento meus alunos ou amigos que querem fazer a transição a procurarem um profissional qualificado. É prudente e necessário para não sofrer o que eu sofri no início.

Hoje, não me preocupo com os nutrientes, pois fazem parte da minha rotina diária, mas, no início, preocupava-me com a B12, o ferro, o cálcio e o ômega-3. Acredito que todos que passam pela transição têm essa preocupação.

 

11. Você acha que o seu trabalho já contribuiu para o movimento em prol dos animais?

Com certeza! Já veganizei muita gente nesse caminho. Plantei a sementinha da reflexão em muitos, seja por meio do esporte ou na vida social.

E digo a vocês que não me sinto superior por isso. Tenho a consciência de que sou uma ferramenta para o veganismo, nada mais. Ele mudou minha vida e nada mais justo que eu ajudar a melhorar a vida de outras pessoas, além, é claro, da vida dos nossos irmãos animais.

 

12. Quais seus planos para o futuro?

Veganizar, veganizar e veganizar (risos).

Continuarei com meu ativismo animal por meio do esporte e do meu trabalho como personal trainer para levar o veganismo a todos os cantos do Brasil.

 

13. Uma pessoa vegana é perfeitamente capaz de praticar qualquer esporte. Qual o recado que você gostaria de deixar para as pessoas que gostariam de se tornar veganas/vegetarianas ou estão no período de transição?

Para as pessoas que gostariam de se tornar veganas/vegetarianas ou que estão no período de transição, costumo dizer aquela frase conhecida: “Sejam vocês a diferença que querem para o mundo”.

É importante, para todos nós, a reforma íntima em que o despertar da consciência estimule a reflexão sobre nossa importância para o bem-estar animal e do planeta. Sejamos os porta-vozes desses irmãozinhos que possuem o mesmo direito que nós, o direito à vida, à liberdade, ao respeito, ao amor. Sofrimento, tortura, exploração e morte não são sinônimos de evolução física e muito menos moral. Se queremos um mundo melhor, temos de ser melhores, temos de dar exemplos, temos de respeitar nossos irmãos que, assim como nós, também, estão nesse estágio evolutivo, cada um na sua natureza.

O veganismo mudou minha vida e, com certeza, mudará a de vocês.

 

Juntos somos mais!

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