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18/09/2025

Arte, crise climática e escolhas cotidianas

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Entre 4 de setembro de 2025 e 1º de fevereiro de 2026, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) apresenta a exposição “Histórias da Ecologia“, reunindo obras de mais de 100 artistas. O título no plural propõe reconhecer que não existe uma única narrativa sobre nossa relação com a Terra, mas múltiplas visões em tensão permanente.

De um lado encontramos a tradição ocidental que separa rigidamente “natureza” e “cultura”. Do outro, emergem as ecologias dissidentes e as cosmovisões ameríndias, que nos ensinam sobre pertencimento e interconexão. Essa tensão ganha forma em obras que funcionam como diagnósticos do nosso tempo.

Uma delas, da artista Suzanne Treister, apresenta uma carta de tarô intitulada “A Morte”, que oferece um retrato preciso de nossa era ao listar as causas das mudanças climáticas. Ali, termos como “Farming” (Agropecuária), “Deforestation” (Desmatamento) e “Overfishing” (Pesca excessiva) ganham destaque entre os principais gatilhos da crise. A arte nos confronta com a realidade: a perda de biodiversidade, a escassez de água e as zonas mortas nos oceanos resultam diretamente de um sistema predatório que transforma a própria vida em mercadoria.

Esse sistema representa a expressão máxima do extrativismo. A pecuária industrial emerge como consequência natural de uma história que nos ensinou a ver o mundo como objeto e os animais como recursos a serem explorados. Nesse contexto, a crise ambiental se caracteriza como um projeto alimentado por interesses econômicos e sustentado por nossos hábitos cotidianos.

Em contraponto a esse diagnóstico sombrio, a obra “O Sol”, da mesma artista, apresenta a filosofia da Ecologia Profunda, oferecendo uma visão não antropocêntrica. Sua mensagem central defende “o direito de todas as formas de vida a viverem”, um direito universal que transcende quantificações utilitárias. Essa é a essência das ecologias dissidentes que a exposição celebra: a compreensão de que somos parte, não proprietários, de uma vasta teia interconectada.

A visita à exposição se transforma, portanto, em chamado à ação. As obras nos confrontam com uma pergunta urgente: qual história nossas vidas validam diariamente? Vamos continuar cúmplices da narrativa que conduz à crise ecológica, ou encontraremos coragem para nos alinhar a uma filosofia regeneradora?

A resposta mais coerente pode começar em nosso prato. Adotar uma alimentação baseada em vegetais transcende a escolha pessoal para se tornar ato político de repúdio às causas da destruição ambiental. Representa a aplicação prática dos princípios da Ecologia Profunda, reconhecendo o valor intrínseco de cada ser vivo.

“Histórias da Ecologia” nos oferece clareza sobre os caminhos possíveis. Cabe a nós transformar essa consciência em prática cotidiana, garantindo que nossas escolhas narrem uma história diferente: de regeneração, respeito e coexistência.

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