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22/03/2024
Amazônia em risco de colapso: como o desmatamento e a pecuária estão ameaçando o futuro da floresta
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Autora: Julia Lopes
Durante 65 milhões de anos, a Amazônia, maior floresta tropical do mundo, manteve-se relativamente resiliente à variabilidade climática. Agora, contudo, a região está exposta a um estresse sem precedentes devido a atividades antrópicas, que causam o aumento das temperaturas, secas extremas, desmatamento e incêndios. Isso é o que um estudo conduzido por pesquisadores de várias instituições nacionais e internacionais e publicado na revista Nature revela. De acordo com o estudo, a floresta pode sofrer colapso em larga escala até 2050.
O colapso da floresta reduziria sua capacidade de absorver carbono, intensificando assim o aquecimento global. Isso também afetaria o fornecimento de água na região, já que a Amazônia permite que outros biomas e atividades econômicas prosperem em áreas que, do contrário, seriam áridas, como o Pantanal e a bacia do rio La Plata. Além disso, o regime de chuvas em todo o Brasil seria afetado, potencializando o surgimento de novas crises hídricas, como a ocorrida em 2014. Isso porque a floresta é vital para fornecer umidade em toda a América do Sul, por meio da dinâmica dos rios voadores.
Segundo o estudo, a crise climática atualmente enfrentada tem intensificado o estresse hídrico na Amazônia, originando um clima mais seco e quente. Esse cenário pode levar à morte em massa de árvores e tem o potencial de tornar partes da Amazônia inabitáveis devido ao calor e à escassez de recursos para os povos indígenas e as comunidades locais.
O estudo recomenda o fim do desmatamento, a restauração florestal, a expansão de áreas protegidas e de territórios indígenas e a cooperação global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Neste contexto, é importante lembrar que a pecuária é responsável por uma grande parte do desmatamento no Brasil, particularmente na Amazônia, bioma que abriga 10% da biodiversidade terrestre e é crucial para as dinâmicas climáticas locais, regionais e globais. Ainda assim, a criação de gado representa 75% do desmatamento em terras públicas na Amazônia. A demanda crescente por carne bovina é um impulsionador significativo do desmatamento na região. Dados do IPAM revelam que, de 1985 a 2022, 809 mil km² de floresta foram desmatados para dar lugar a novas pastagens, o que corresponde a 19% da Amazônia brasileira.
“Diante da iminência do colapso na Amazônia, é fundamental reconhecer que a pecuária é uma das principais causas do desmatamento na região. Substituir a proteína animal por vegetal não é apenas uma escolha pessoal, é uma ação crucial para proteger a Amazônia e outros biomas. Optar por uma alimentação baseada em vegetais, também conhecida como alimentação vegana, pode fazer uma diferença significativa na preservação desses ecossistemas vitais.” – Mônica Buava, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira
Ainda é crucial destacar que o Cerrado, bioma que corresponde a aproximadamente 25% do território brasileiro e é uma das áreas de maior biodiversidade no mundo, também enfrenta ameaças significativas devido ao desmatamento associado à produção de carne. De acordo com dados da ONG internacional Global Witness, 35,6% do gado no estado do Mato Grosso é criado em áreas desflorestadas, e quase 42% das fazendas da região estão situadas em áreas que foram desmatadas.
Portanto, a adoção de uma alimentação vegana ou até mesmo a redução do consumo de carne surgem como medidas importantes na luta contra o desmatamento e na proteção desses importantes biomas. Um estudo recente da Universidade de Oxford, publicado na revista Nature, confirma isso. Segundo os autores, em comparação com dietas ricas em carne, as dietas veganas resultaram em 75% menos uso de terra, 54% menos uso de água, 66% menos perda de biodiversidade e 75% menos emissões de gases de efeito estufa. Tais resultados confirmam a urgência de reduzir o consumo de alimentos de origem animal.
Imagem: Desmatamento da floresta Amazônica
Fonte: Brasil de Fato (2020)