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20/11/2025
Brasil em foco: Promovendo o Movimento Nacional de Defesa dos Animais por meio da Pesquisa
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por Faunalytics
Seguindo a estrutura estabelecida em nosso estudo Pesquisa e Dados como Ferramentas na Tomada de Decisão dos Defensores, este artigo analisa as pesquisas mais relevantes atualmente disponíveis sobre o movimento brasileiro de defesa dos animais e destaca maneiras pelas quais essas descobertas podem apoiar seu avanço.
Usando dados qualitativos coletados no VegFest/AVA LATAM em 2024, conseguimos destacar as muitas maneiras pelas quais os defensores incorporam pesquisas em seu trabalho no Brasil, bem como as barreiras que eles encontram ao longo do caminho.

Nossa pesquisa revelou que a barreira mais significativa para os defensores brasileiros é a dificuldade de acesso a estudos regionalmente relevantes. Para ajudar a preencher essa lacuna, compilamos pesquisas importantes que podem apoiar e aprimorar a eficácia do movimento no Brasil.
Convencer interessados e tomadores de decisão a atuar pelos animais
A principal maneira pela qual os defensores no Brasil usam a pesquisa é catalisando ações, concentrando-se em estudos que têm o poder de motivar os tomadores de decisão a enfrentar os desafios que eles resolvem encarar.
Este estudo analisa como a JBS, maior produtora de carne do mundo, contribui para o aumento da desigualdade e da fome, apesar de receber financiamento governamental. A rápida ascensão da empresa foi possibilitada pela política de “campeões nacionais”, por meio da qual o governo apoiou seu crescimento através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); como resultado, esperava-se que a empresa ajudasse a estimular a economia local. O autor destaca, no entanto, a acentuada desigualdade de renda entre os altos executivos (US$ 424.000/mês) e o restante da força de trabalho (US$ 393/mês), e como essa disparidade contribuiu para o aumento da fome e da pobreza em 11 de suas 12 principais localidades.

Os resultados deste estudo podem impulsionar mudanças se os responsáveis por elaborar políticas forem persuadidos a transferir o apoio dado às grandes empresas de carne para o financiamento de pequenos produtores. Outras maneiras que esta pesquisa pode ser usada para promover mudanças incluem a defesa de salários mínimos mais altos, a garantia de condições de trabalho justas nas empresas de carne e a exigência de maior transparência. Os dados também podem influenciar outros interessados importantes, incluindo a indústria da carne, que deve abordar as disparidades salariais, e os consumidores, que podem reduzir o consumo de carne, escolher produtos locais e socialmente responsáveis ou pressionar por uma regulamentação mais rigorosa do setor.
Escolhendo alvos de campanha, definindo prioridades e informando teorias de mudança
Outra aplicação fundamental da pesquisa é influenciar a tomada de decisões organizacionais. Estudos que revelam atitudes públicas ou as estratégias mais eficazes para a defesa dos animais são bons exemplos desse tipo de pesquisa. Os exemplos a seguir podem ser usados por defensores dos animais no Brasil, pois levam em consideração os valores culturais que moldam a sociedade brasileira.
Nosso estudo original de 2022, Crenças sobre peixes e galinhas e sua relação com comportamentos positivos para com os animais no Brasil, concentra-se em animais de pequeno porte abatidos em massa, destacando a necessidade urgente de atenção ao assunto. Somente em 2023, mais de 6,2 bilhões de frangos foram abatidos no Brasil, e mais de 700.000 toneladas de peixes foram mortas em 2022. Compreender as atitudes do público em relação a esses animais é, portanto, de extrema importância. Em uma perspectiva positiva, cerca de 70% dos entrevistados indicaram que apoiariam a assinatura de uma petição para melhorar seu bem-estar; mais de 60% se comprometeram a comer menos peixe; e pouco mais da metade se comprometeu a reduzir o consumo de frango.

Este estudo revelou ainda que, embora as pessoas considerem a qualidade do ar e da água para peixes e galinhas importante, menos da metade dos entrevistados reconhece que os peixes são capazes de emoções positivas, e quase três em cada quatro acreditam que as galinhas agem principalmente por instinto. Os defensores que trabalham para melhorar o bem-estar dos peixes devem se concentrar em campanhas que enfatizem que eles precisam de espaço para explorar e se exercitar, e que podem sentir dor e experimentar emoções positivas, como prazer. Da mesma forma, os defensores que em busca de promessas alimentares sobre frango devem se concentrar em campanhas que destaquem que as galinhas precisam de espaço para explorar e se exercitar, que a maioria é criada de forma desumana, que elas podem se relacionar com humanos e que muitas granjas de frango têm condições de vida extremamente precárias. Para obter informações sobre atitudes em relação a outros animais de criação no Brasil, consulte nosso estudo de 2018 sobre animais de criação nos países do BRIC.
Outro recurso valioso para orientar a tomada de decisões internas é o estudo da Animal Ask “Advocacy in Brazil: Top Opportunities for Impact” (Defesa Animal no Brasil: Principais Oportunidades de Impacto), realizado em nome do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. Os autores também identificaram animais como peixes (tilápias) e galinhas poedeiras como animais que necessitam urgentemente de melhores condições de bem-estar e oferecem oportunidades para ações de defesa de alto impacto. O estudo destaca os compromissos com ovos livres de gaiolas como uma tática eficaz para defensores (para mais informações, consulte este estudo da Alianima sobre os compromissos com ovos livres de gaiolas dos principais supermercados do Brasil). Outras abordagens promissoras incluem iniciativas mutuamente benéficas, como programas de erradicação da bicheira para melhorar o bem-estar dos animais de criação e a colaboração com piscicultores para reduzir as altas taxas de mortalidade. Para mais informações sobre a economia das indústrias de frango, ovos e peixes no Brasil, considere consultar este estudo.
Demonstrando como nosso movimento é movido pela lógica e pela empatia
A pesquisa também pode ajudar a persuadir públicos fora do movimento de defesa dos animais de que o trabalho dos defensores se baseia em análise, não apenas em emoção. Adotar uma abordagem baseada em evidências permite que as organizações construam legitimidade externa, e pesquisas imparciais e revisadas por pares são a maneira mais eficaz de alcançar isso. Por exemplo, este estudo sobre os custos ambientais e econômicos da carne bovina brasileira pode ser usado por defensores para engajar o público brasileiro sobre os impactos mais amplos do comércio de carne bovina, estendendo a conversa para além da narrativa dos direitos e bem-estar dos animais.
Este relatório analisa os custos ambientais e econômicos da indústria da carne bovina no Brasil de 2008 a 2017, rastreando os impactos desde o nascimento de um bezerro até o consumo humano de carne bovina. Durante esse período, a indústria produziu 290 milhões de toneladas de dióxido de carbono, representando 14% das emissões totais do Brasil, enquanto o desmatamento da floresta amazônica para a criação de pastagens para o gado foi responsável por outros 22%.
A pegada de carbono de um quilo de carne bovina no Brasil:
- 78 kg de CO₂e por kg de carne bovina, em média
- 145 kg de CO₂e por kg de carne bovina da região amazônica
- 183 kg de CO₂e por kg de carne bovina da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)
A análise econômica dos autores observa que subsídios maciços de R$ 123 bilhões por ano se traduzem em quase 10% do preço médio do quilo de carne bovina provenientes do dinheiro dos contribuintes. Em uma análise mais aprofundada, cerca de 79% dos impostos arrecadados do setor foram devolvidos a ele na forma de subsídios, e em 2015 e 2016 essa taxa ultrapassou 100%, o que significa que os impostos direcionados ao setor foram maiores do que os impostos arrecadados dele. Defensores podem usar essas informações para destacar como o setor é insustentável sob qualquer perspectiva.
Identificando potenciais oportunidades de colaboração
Ativistas brasileiros também podem se beneficiar de pesquisas focadas na construção de movimentos, como nosso estudo original sobre oportunidades de colaboração entre os movimentos de proteção animal e ambientalistas. Este relatório fornece insights valiosos sobre como as colaborações entre esses movimentos podem funcionar, delineando desafios e oportunidades, e identifica com quais tipos de organizações ambientais os grupos de defesa dos animais devem se envolver, dependendo de seus objetivos estratégicos específicos.
Constatamos que organizações ambientais estão geralmente abertas a colaborar com uma ampla gama de grupos de defesa dos animais, especialmente quando seu trabalho se concentra em conservação, sustentabilidade ou combate ao desmatamento. Áreas potenciais para parceria incluem defesa jurídica, educação e promoção de dietas à base de plantas. No entanto, é importante considerar os desafios impostos por diferentes estratégias de defesa (por exemplo, mensagens ambientais versus bem-estar animal, ou promoção do veganismo versus redução do consumo de produtos de origem animal). Os defensores brasileiros têm muito a se beneficiar desse tipo de colaboração, visto que o país é uma alta prioridade para a defesa dos animais de produção e um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo.
Recomenda-se que as organizações de defesa dos animais que buscam trabalhar com grupos ambientais se concentrem na comunicação clara e dediquem tempo a explicar seu trabalho. Usar as informações disponíveis para mostrar como a pecuária se conecta às questões ambientais com as quais se importam pode ajudar a estabelecer as bases para uma parceria. Identificar e abordar quaisquer preocupações que essas organizações possam ter também é importante antes de iniciar esforços conjuntos, e algum tipo de compromisso pode ser necessário. Nosso estudo constatou abertura e potencial entre os movimentos, portanto, não hesite em entrar em contato.
Este guia fornece estratégias adicionais para uma colaboração eficaz entre movimentos.
Encontrar áreas negligenciadas e propícias ao impacto
Um último uso potencial da pesquisa para fortalecer a eficácia dos nossos movimentos é identificar espécies, regiões ou barreiras-chave específicas que requerem atenção, juntamente com possíveis soluções. As Estatísticas Globais de Abate de Animais da Faunalyticss oferecem um excelente ponto de partida para identificar essas áreas, além de fornecer dados úteis para se ter em mãos.
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Outros estudos úteis examinam questões como o desperdício de alimentos e o número de vidas animais que poderiam ser salvas se o problema fosse melhor abordado. Um estudo destaca o Brasil como um dos países com maior perda per capita de vidas animais, tornando os esforços para abordar essa questão particularmente impactantes. Ativistas podem aumentar a conscientização de forma eficaz, garantindo que formuladores de políticas e consumidores compreendam tanto as vidas perdidas na cadeia de suprimentos de alimentos quanto os efeitos mais amplos sobre a população brasileira e o meio ambiente.

Os defensores brasileiros também podem fortalecer seus esforços ao compreender as percepções e crenças do público sobre o abate de animais. O estudo constatou que, embora muitos brasileiros se preocupem com o bem-estar animal e considerem importante que os animais não sofram durante o abate, há também uma notável falta de conhecimento sobre as práticas de abate. Por exemplo, 35% dos entrevistados não sabiam se os animais estavam plenamente conscientes no momento do abate. Essas descobertas ressaltam a necessidade de campanhas educativas, visto que uma maior conscientização sobre o que ocorre durante o abate pode influenciar as escolhas e preferências dos consumidores em relação aos produtos de origem animal.
Olhando para o futuro
A Faunalytics está comprometida em melhorar o acesso dos defensores dos animais a pesquisas de alta qualidade em todo o mundo. No Brasil, um dos maiores mercados mundiais de produtos de origem animal e um dos principais exportadores de proteína animal, sabemos que ainda há muito a conquistar. Os defensores só conseguirão desafiar a indústria da carne de forma eficaz se tiverem os melhores dados ao alcance das mãos. Esperamos que este artigo sirva como um recurso fundamental, fornecendo insights e pesquisas úteis para fortalecer campanhas, informar estratégias e promover mudanças significativas para os animais no Brasil.

