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Autora: Julia Lopes

Diante do atual cenário climático-ambiental, a substituição de alimentos de origem animal por uma alimentação vegana é uma das atitudes individuais mais significativas e necessárias para reduzir as emissões de carbono. Nesse contexto, diversos pesquisadores vêm estudando as chamadas “intervenções padrão” (default interventions). Essas intervenções baseiam-se no princípio de que, ao estabelecer uma opção como padrão, as pessoas tendem a escolhê-la por conveniência, mesmo com outras alternativas disponíveis. Essa estratégia, já aplicada em várias áreas, provou-se eficaz na promoção de comportamentos mais sustentáveis em refeitórios.

Um estudo recente feito por pesquisadores do Boston College revelou que a mera reorganização dos alimentos em refeitórios universitários pode provocar mudanças significativas nos hábitos alimentares dos estudantes. Ao apresentar opções vegetais de forma mais visível e acessível, os pesquisadores notaram uma redução expressiva no consumo de carne, resultando em impactos positivos para o meio ambiente. A pesquisa revelou um aumento de até 58% na escolha de refeições à base de plantas. Esse resultado foi obtido ao posicionar pratos veganos como primeira opção nas linhas de buffet, deixando as opções com carne disponíveis apenas sob demanda.

Essa prática não só reduziu o consumo de carne, como também resultou em uma diminuição significativa das emissões de gases de efeito estufa, visto que a produção de carne bovina é uma das principais fontes desses gases. Além disso, observou-se um aumento na satisfação dos estudantes com a variedade de opções oferecidas.

A pesquisa demonstra que os estudantes, incluindo aqueles que se identificam como carnívoros, mostram-se receptivos a novas opções alimentares, principalmente quando estas são apresentadas de maneira atraente, acessível, saudável e inclusiva. Os resultados deste estudo abrem portas para a implementação de políticas semelhantes em outros ambientes, como escolas, hospitais, empresas, eventos etc.

É importante ressaltar que este tipo de estudo não é inédito. Diversas instituições, como a Better Food Foundation, vêm defendendo intervenções padrão para promover uma alimentação vegana. Esta organização estima que, globalmente, cerca de 900 instituições estão adotando essa prática, impactando aproximadamente 1,8 milhão de refeições por ano. O resultado é significativo: uma redução de 37% nas emissões de gases de efeito estufa — equivalente a 888.000 kg de CO₂ — e uma diminuição de 34% na pegada hídrica, correspondente a 79,5 milhões de litros de água.

Isso se mostra relevante à medida que a redução do consumo de produtos animais é essencial para atingir metas de sustentabilidade e limitar o aquecimento global a 1,5°C. Logo, intervenções dietéticas que estabelecem opções vegetais como padrão podem efetivamente mudar comportamentos alimentares e contribuir para a redução da emissão de gases do efeito estufa.