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21/09/2024

Dia da Amazônia

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Autora: Julia Lopes

Este mês comemoramos o Dia da Amazônia em 5 de setembro, celebrando a maior floresta tropical do mundo. Com uma extensão de mais de 6 milhões de km², a floresta se estende por nove países: Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Venezuela, Equador, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. O Brasil abriga a maior parte desse bioma, aproximadamente 60% do total.

A Amazônia possui uma biodiversidade surpreendente. São cerca de 50 mil espécies de plantas, 420 mamíferos, 1.300 aves, 370 répteis, 420 anfíbios e 2,4 mil peixes. Além dessa riqueza natural, a região possui uma notável diversidade cultural, sendo o lar de mais de 180 povos indígenas. A floresta também tem importante papel na regulação climática, sendo vital para o fornecimento de umidade em toda a América do Sul, por meio da dinâmica dos chamados “rios voadores“.

No entanto, diversas atividades antrópicas têm imposto sérias ameaças para a manutenção da floresta e de todos que ali habitam. Práticas como desmatamento, queimadas, exploração madeireira ilegal, mineração e expansão da agropecuária vêm causando a perda de habitat, a fragmentação da floresta e a extinção de espécies.

Até recentemente, o bioma amazônico era considerado um sumidouro de carbono — termo que designa locais, atividades ou processos onde a absorção de CO₂ supera as emissões. Contudo, as atividades humanas estão alterando essa realidade. Um estudo de 2021 revelou que, entre 2010 e 2018, a Amazônia emitiu anualmente, em média, centenas de milhões de toneladas de carbono a mais do que sequestrou e armazenou em sua vegetação e solo.

Este cenário está diretamente relacionado à expansão agrícola, com destaque para a pecuária, que permanece como o principal motor do desmatamento na Amazônia. Na porção brasileira da floresta, pesquisas apontam que pastagens degradadas — sejam elas ativas ou abandonadas — abrangem 80% das áreas desmatadas.

Um levantamento de agosto deste ano revelou que a Amazônia já registrou mais de 50 mil focos de incêndio apenas em 2024. Como consequência, os “rios voadores” transformaram-se em um vasto corredor de fumaça que se espalhou pelo país, encobrindo o céu de cidades brasileiras e sufocando seus habitantes. Especialistas apontam que a seca extrema que assola o bioma desde o ano passado é resultado de uma combinação entre um intenso El Niño e ações humanas — especialmente o desmatamento. Essa combinação reduz a capacidade da Amazônia de produzir chuvas e manter sua umidade, tornando-a mais vulnerável a incêndios. Não por acaso, Gilberto de Souza Marques, professor de economia da Universidade Federal do Pará, em entrevista à Agência Brasil, destaca que a distribuição do fogo na Amazônia se concentra nos municípios onde o agronegócio mais avança, como é o caso de São Félix do Xingu (PA), que possui o maior rebanho bovino do Brasil. Diante do cenário de calamidade, esse mês o governo federal enviou ao Congresso Nacional uma medida provisória (MP 1258/24) que abre um crédito extraordinário no Orçamento de 2024, destinando R$ 514,5 milhões para combater as queimadas e enfrentar a estiagem na região amazônica.

Não é exagero dizer que o consumo de carne é um fator relevante para o desmatamento na Amazônia e que o agronegócio protagoniza a crise climática atualmente instalada. A expansão da pecuária exige vastas áreas de pastagens, promovendo a derrubada de florestas nativas para dar lugar aos campos de criação de gado. Além disso, a produção de ração para o gado demanda o cultivo de grandes extensões de soja e milho, intensificando o uso de agrotóxicos e contribuindo para a degradação dos solos e poluição das águas.

Assim, mais do que uma mera escolha alimentar, o veganismo se apresenta como um ato político. O boicote ao consumo de alimentos de origem animal aparece como uma medida eficaz no enfraquecimento do agronegócio, que está destruindo a Amazônia e outros importantes biomas brasileiros. Concomitantemente, mais investimento em iniciativas agroecológicas se mostram extremamente necessários para se contrapor à lógica de produção do agronegócio. Enquanto mudanças estruturais não ocorrem, observamos o país pegar fogo.

Imagem: Incêndio na Amazônia

Fonte: Câmara dos Deputados (2024)

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