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26/06/2024
Pantanal em chamas
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Autora: Julia Lopes
Entre 08 de março e 12 de maio deste ano, o Instituto Tomie Ohtake recebeu a exposição “Água Pantanal Fogo“, que reuniu fotografias de Lalo de Almeida e Luciano Candisani. A mostra exibiu registros do fogo que assolou o Pantanal durante os incêndios de 2020, devastando aproximadamente 30% de sua área e resultando na morte de 17 milhões de animais. A exposição também exibiu uma série de imagens da água, seja submersa, terrestre ou aérea, durante as cheias pantaneiras, deixando evidente os contrastes sofridos na paisagem.
Uma das maiores planícies inundáveis do planeta, o Pantanal estende-se entre Brasil, Bolívia e Paraguai. O Bioma Pantanal é reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade e como Reserva da Biosfera. Isso significa que é uma área de conservação que estimula a busca por soluções para problemas como o desmatamento, a desertificação, a poluição atmosférica e o efeito estufa.
Apesar de estar protegido por tal mecanismo internacional, atividades econômicas têm avançado sobre esse bioma, colocando-o em perigo. Um exemplo disso é que, entre 2019 e 2020, os incêndios no Pantanal atingiram níveis sem precedentes, destruindo vastas áreas e afetando o solo, a vegetação, a fauna silvestre, agricultores familiares e populações tradicionais, conforme registrado nas fotografias da exposição. Pouco depois, em 2023, este bioma voltou a sofrer com queimadas, registrando 261 eventos de fogo – o que representou um aumento de 135% em eventos em relação ao que foi verificado em 2020.
Com a pecuária como principal atividade econômica, o Pantanal tem sido seriamente impactado não apenas por queimadas descontroladas, mas também por inúmeras práticas criminosas associadas à criação de gado. Exemplo disso foi o episódio que ocorreu em abril deste ano, quando um pecuarista da região destruiu mais de 80 mil hectares no Pantanal Mato-grossense através de desmate químico. Ele utilizou 25 agrotóxicos diferentes na vegetação, um deles contendo a substância 2,4-D – a mesma utilizada na Guerra do Vietnã.
Não por acaso, no Pantanal, a maioria dos focos de incêndio começa por ação humana, incluindo práticas inadequadas associadas à pecuária. Além de devastar a vegetação nativa e matar inúmeros animais, o desmatamento desenfreado também tem gerado uma série de outras consequências ambientais. O assoreamento do Rio Taquari, por exemplo, é tido como o maior desastre ambiental do Pantanal atualmente. Desde 2019, mais de 150 km do leito do rio se tornaram areia, deixando um caminho árido onde antes corriam as águas do rio. Tal degradação compromete a biodiversidade aquática, a navegabilidade do rio e a vida dos ribeirinhos.
A perda da vegetação ciliar nativa em terrenos de declive acentuado e solo arenoso também tem favorecido a formação de voçorocas, ou seja, enormes buracos de erosão que deixam o solo exposto. Na bacia do Alto Taquari, onde grande parte da mata nativa foi desmatada nas últimas décadas, existem aproximadamente 3 mil voçorocas. Como consequência, as áreas atingidas por voçorocas apresentam baixa fertilidade natural e o endurecimento da camada superior dos solos, com a consequente diminuição da infiltração da água da chuva, o que dificulta a recarga de aquíferos.
Todos esses fatores ameaçam a sobrevivência de diversas espécies locais e os ciclos naturais da região. Por um lado, as fotografias de Lalo de Almeida e Luciano Candisani servem como um doloroso lembrete das consequências que o Pantanal está sofrendo devido a tais dinâmicas. Por outro, são um chamado à reflexão sobre como a pecuária é incompatível com a preservação deste bioma.