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05/08/2024

Mas… nem peixe?

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Autora: Julia Lopes

Os oceanos, que cobrem mais de 70% do planeta, enfrentam uma crise sem precedentes. A pesca predatória, a poluição e a destruição de habitats marinhos ameaçam a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas marinhos. Em resposta a essa situação alarmante, em janeiro de 2021, as Nações Unidas lançaram a Década do Oceano (2021 – 2030), com o objetivo de mobilizar esforços globais para proteger e restaurar os oceanos.

Para isso, alguns dos principais desafios a serem enfrentados, de acordo com as Nações Unidas, incluem: compreender e vencer a poluição marinha, proteger e restaurar ecossistemas e biodiversidade, alimentar de forma sustentável a população global e mudar a relação da humanidade com o oceano.

Uma das soluções mais promissoras para enfrentar esses desafios é a adoção de uma alimentação vegana. Isso ocorre já que o consumo de peixes, frutos do mar, entre outros, está associado à ameaça a ecossistemas marinhos, à perda da biodiversidade, à poluição dos oceanos e à intensificação da crise climática. Embora seja amplamente difundida a ideia de que o consumo de peixes seja uma alternativa sustentável, o tema é complexo e merece ser discutido em profundidade.

Práticas pesqueiras destrutivas, como a pesca de arrasto, causam danos consideráveis aos habitats marinhos e representam uma verdadeira ameaça à sobrevivência de diversas espécies, sejam elas capturadas intencionalmente ou por acidente (bycatch). Anualmente, mais de 650 mil animais marinhos morrem como bycatch da pesca. Entre as espécies mais impactadas estão tartarugas, tubarões, raias, golfinhos, baleias, focas, peixes e aves marinhas, muitas das quais já se encontram em situação de risco de extinção. Pesquisas estimam que a pesca acidental representa 10,8% dos peixes retirados dos oceanos anualmente e que a pesca de arrasto é responsável por 46% desse bycatch.

O consumo anual global per capita de alimentos de origem aquática aumentou de 9,1 kg em 1961 para cerca de 20,7 kg em 2021. Logo, é natural que a crescente demanda por tais produtos impacte a sustentabilidade marinha. Tal situação leva à pesca predatória, à sobrepesca e ao declínio de diversas populações de peixes. Essas práticas comprometem a reprodução das espécies, desequilibram a cadeia alimentar e podem levar à extinção de algumas espécies. Como resultado, pesquisas indicam que quase 90% das reservas mundiais de peixes marinhos estão totalmente exploradas, sobrepescadas ou esgotadas. Além disso, também há o problema da poluição. Pesquisas indicam que equipamentos de pesca abandonados compõem cerca de 10% do plástico que entra nos oceanos a cada ano, o equivalente a 640 mil toneladas anuais.

Já a aquicultura, ou seja, a criação de peixes em cativeiro, tem crescido rapidamente e traz preocupações ambientais. Atualmente, cerca de 50% do pescado mundial provém dessa prática, enquanto em 1970 era apenas 3%. A alta densidade de peixes em cativeiro causa estresse, comportamentos anormais, ferimentos, infecções parasitárias e alta mortalidade, necessitando do uso intensivo de pesticidas, bactericidas, fungicidas e antibióticos. Além da contaminação ambiental por esses aditivos, os peixes em cativeiro produzem milhões de toneladas de excrementos anualmente, poluindo a água ao redor dos tanques e degradando ecossistemas próximos, além de espalhar doenças para outras espécies. Outro problema é a fuga de peixes dos tanques, que se misturam aos cardumes nativos, transmitindo doenças e cruzando com eles, resultando em gerações menos aptas a sobreviver e se reproduzir na natureza, contribuindo para o declínio da população selvagem. Por fim, a aquicultura contribui para o aquecimento global. Em 2017, a cultura de animais aquáticos representou aproximadamente 0,5% das emissões antropogênicas totais de CO2.

Diante dos impactos negativos da pesca e da aquicultura, torna-se urgente repensar nosso sistema alimentar, buscando alternativas sustentáveis, seguras e que respeitem os oceanos. A Década do Oceano é um convite à ação, um chamado para que a humanidade se mobilize em prol da preservação dos ecossistemas marinhos. O veganismo, ao oferecer uma alternativa alimentar sustentável e ética, alivia a pressão sobre os oceanos e promove a recuperação dos ecossistemas.

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