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23/01/2007

Vegetarianismo e Prevenção à Poluição

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A cada ano são produzidos, somente nos EUA, mais de 1,4 trilhões de quilos de excrementos animais (USDA, 1997). Este excremento na maior parte das vezes não pode ser empregado na agricultura e não é direcionado para nenhuma estação de tratamento de esgotos, sendo inadequadamente disposto no ambiente. No meio ambiente, estes excrementos nitrificam o solo e a água, superalimentam com matéria orgânica (eutrofisam) os corpos d’água e colocam em risco a saúde pública, estando associados à disseminação de coliformes fecais, proliferação de insetos e problemas de saúde como alergias, hepatite, canceres e outras doenças.

Uma fazenda contendo 5 mil bovinos produz a quantidade de excrementos que produziria uma cidade com 50 mil habitantes. Todos os dias, cada vaca produz cerca de 40 kg de esterco seco e cada porco produz de 5 a 9 kg de urina e fezes. Em alguns municípios catarinenses a suinocultura é responsável por mais de 65% da emissão de poluentes. A contaminação das águas superficiais por coliformes fecais em algumas regiões do Sul do Brasil chega a 85% das fontes naturais de abastecimento.

O poder poluente dos dejetos suínos, por exemplo, é cerca de 50 vezes maior que o do esgoto humano, em termos de DBO. DBO é a Demanda Bioquímica de Oxigênio, ou seja, a quantidade de oxigênio necessária para oxidar uma determinada amostra contendo matéria orgânica. Em termos práticos, quanto maior a quantidade de matéria orgânica presente na água, mais oxigênio será necessário para sua oxidação, o que significa que o lançamento de esgotos in natura nos corpos d’água causa a retirada do oxigênio que seria utilizado pelos peixes e outros organismos. Este processo é chamado eutrofização e causa grande mortandade de organismos aquáticos.

Por que não utilizar estes dejetos como adubo?

O manejo adequado de dejetos pecuários para disposição na agricultura implicaria em seu armazenamento por período superior a 120 dias, tratamento, transporte e distribuição nos campos, resultando em um gasto de algumas centenas de reais por animal. O pecuarista não considera estes gastos como investimentos, pois a implantação deste sistema não implica em aumento na produção, qualidade do produto etc. Portanto, é preferível para o pecuarista descartar estes resíduos sem qualquer critério.

Além disso, o agricultor moderno tende a preferir a adoção de fertilizantes formulados, menos volumosos e de aplicação mais simples. A agricultura orgânica, que ainda utiliza dejetos animais, tende a evitar utilizar o estrume de animais alimentados à base de rações, hormônios de crescimento, antibióticos e pesticidas em geral, pois todos estes elementos são potenciais contaminantes do solo.

Mesmo em países desenvolvidos, onde a abundância de recursos permite um manejo mais adequando e melhor infraestrutura, a insustentabilidade da pecuária torna impossível o controle efetivo da poluição. Por exemplo, países europeus como a Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Bélgica e França apresentam problemas ambientais ocasionados pela pecuária muito mais graves do que os nossos. Os Estados Unidos já possuem áreas com níveis de contaminação alarmantes.

Pecuária: uso ineficiente de recursos hídricos

Cerca de 70% da água doce captada pelo homem dos rios, lagos e depósitos subterrâneos é destinada para uso agrícola, sendo que os 30% restantes são utilizados para as demais atividades (consumo doméstico, atividade industrial, geração de energia, recreação, abastecimento e outros). Desta água utilizada na agricultura, grande quantidade é utilizada diretamente, na produção pecuária, ou indiretamente, na irrigação de culturas que produzem alimentos para animais de corte. No Brasil, são necessários em média 2 mil litros de água para produzir cada quilo de soja. Para produzir cada quilo de carne bovina, por outro lado, são necessários cerca de 43 mil litros de água. Nesse cálculo entram não só a água de dessedentação (água que os animais bebem) cerca de 50 litros/dia, mas também a água utilizada na produção de seu alimento.

A agricultura irrigada ocupa 17% das terras aráveis do planeta, sendo responsável por 40% da produção mundial de alimentos. Caso toda a produção mundial de alimentos fosse destinada diretamente à população humana, as extensões de terras necessárias para esta produção seriam muito menores, sendo que somente as terras propícias à agricultura seriam utilizadas. A irrigação se tornaria assim um procedimento dispensável.

A água também é utilizada em abundância nas diferentes etapas que envolvem o processamento das carcaças de animais abatidos: sangria, escaldagem, depenagem, depilação, barbeação, evisceração, lavagem etc. Segundo dados da CETESB, os abatedouros paulistas utilizam 11,9 litros de água para processar cada carcaça de frango e 2500 litros para processar cada carcaça de bovino. Para efeito de comparação, segundo a ONU, a oferta de água nas cidades dos países mais desenvolvidos varia entre 200 e 275 litros por habitante por dia, e a SABESP sugere ser possível viver com 120 litros por pessoa e manter uma boa qualidade de vida.

A pecuária utiliza, em sua cadeia produtiva, maior quantidade de água do que as cidades. No Brasil, somente o setor da suinocultura consome mais de 23 milhões de litros de água por ano e gera efluentes da ordem de 12 milhões de litros por ano.

O pecuarista não paga pela água que utiliza nem pelos efluentes (água contendo sangue, gorduras, visceras, vômitos e fezes) que o abatedouro gera. No preço da carne não estão contabilizados estes custos, nem os prejuízos ao meio ambiente causados pela criação de animais. Todos estes custos são subsidiados pelo governo. Isto significa que o contribuinte arca com todos estes custos, para lucro exclusivo do setor pecuário.

*Sérgio Greif
Biólogo, Coordenador do Departamento de Meio Ambiente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mestre em Alimentos e Nutrição, Especialista em Nutrição Vegetariana

Leia também o texto “A Pecuária e as Mudanças Climáticas”

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