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22/09/2022
CERTIFICAÇÃO VEGANA CRESCE E GANHA FORÇA ENTRE COSMÉTICOS
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O Selo Vegano, processo de certificação criado pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), registrou crescimento na procura de empresas que buscam se adaptar a essa nova realidade do mercado. Dos 2.800 itens com o Selo Vegano no mercado, 189 são cosméticos (veja a lista completa neste link). Em 2019, foram concedidos 34 selos, em 2020, 38, e neste ano a SVB já avaliou 47 produtos. Além de ser impulsionado pelas gerações mais jovens, que consideram a crueldade contra os animais antiética, as vendas por e-commerce também têm aquecido o mercado, em razão da facilidade de seleção e entrega de produtos.
De acordo com matéria publicada no jornal Estadão, o movimento também tem ganhado força a partir de diversas divulgações da causa. Um dos exemplos é o curta-metragem de animação Salve O Ralph, que viralizou em abril deste ano com a história de um coelho cobaia de laboratório. Depois deste episódio, a SVB foi contatada por cerca de 20 marcas com interesse no Selo Vegano, que já existe desde 2013.
Ralph é dublado no Brasil pelo ator Rodrigo Santoro. No filme em questão, o coelho participa de uma entrevista para um documentário, enquanto mostra detalhes de uma rotina bizarra. Produzido pela Humane Society International, o vídeo denuncia a crueldade dos testes em animais e provoca uma reflexão sobre os hábitos de consumo, principalmente de cosméticos.
Selo vegano em alta
Em entrevista ao Estadão, Maria Eduarda Lemos, gerente de certificação da SVB, destacou que a população está ditando o movimento do mercado. “Em contrapartida, as empresas estão enxergando que precisam mudar, não só para atender a essa nova demanda como também com a intenção de contribuir para um futuro melhor para o planeta”.
A quantidade de selos concedidos pela entidade também aumentou nos últimos anos. Entre 2019 e 2020, o número de produtos certificados cresceu 16%, entre alimentos, cosméticos, suplementos alimentares, produtos de limpeza, lavanderia e calçados.
“A SVB entende que um produto vegano não demanda sofrimento animal em nenhuma de suas etapas de produção, desde a pesquisa de desenvolvimento até o item final a ser comercializado”, explica Maria Eduarda. Ela explicou ainda que o Brasil não possui legislação específica sobre o que é um produto vegano e a interpretação do conceito fica à mercê das empresas, “o que pode gerar confusão entre os consumidores”.
O futuro da beleza é vegano
O relatório do instituto de pesquisa Grand View Research de 2019 aponta que o mercado internacional de cosméticos veganos deve atingir US$ 20,8 bilhões até 2025. Para os produtos cruelty free (livre de crueldade animal), a previsão é de alta de 6% entre 2017 e 2023, segundo análise da Market Research Future.
Confira as três perguntas que Maria Eduarda Lemos, gerente de certificação da SVB, respondeu em entrevista ao Estadão:
Houve um boom de cosméticos veganos nos últimos anos?
Sim. O padrão de consumo tem mudado muito, não só para alimentação, mas de uma forma geral. As pessoas estão se preocupando cada vez mais com os impactos daquilo que consomem e para onde vai o seu dinheiro. O planeta e tudo o que vem acontecendo falam por si. As pautas de sustentabilidade que estão explodindo têm feito as pessoas enxergarem que precisam mudar os hábitos.
Aí entram os produtos veganos, sem componentes de origem animal, os quais são buscados não só pela ética da empresa em produzir algo que não agrida o ambiente, mas também por não promoverem sofrimento animal.
Mais empresas têm procurado o Selo Vegano?
As pessoas estão ditando o movimento do mercado e em contrapartida as empresas estão enxergando que precisam mudar a sua postura, não só para atender a essa nova demanda, mas para contribuir para um futuro mais sustentável. Com isso, muitas organizações alteraram a sua formulação e buscaram um reconhecimento que evidenciasse essa mudança por meio das certificações.
O Selo Vegano da Sociedade Vegetariana Brasileira foi criado em 2013. Não certificamos serviços ou marcas, e sim produtos. Qualquer empresa pode solicitar o selo, contudo a maioria com as quais trabalhamos hoje não são 100% veganas.
Entendemos que esse é um movimento que está acontecendo agora e existe um tempo de adaptação, de mudança de uma cultura que sempre foi diferente. A SVB apoia qualquer iniciativa e empresa que se proponha a desenvolver produtos livres de demanda animal no mercado.
Quais os principais entraves do setor e o que é preciso para torná-lo mais acessível?
Dependendo do local, há bastante oferta de produtos veganos, diferentemente de cidades menores e do interior. Além disso, há a questão da precificação, que ainda é uma grande barreira para produtos sustentáveis de forma geral. Entre cosméticos, quando se trata de higiene pessoal, como sabonete, os preços são mais acessíveis. Mas na categoria embelezamento, a diferença com relação aos não veganos costuma ser superior.
A questão das tributações também é uma grande dificuldade para as empresas no País, assim como o desenvolvimento de novas metodologias para a substituição de testes em animais tanto por parte do governo quanto por empresas. Há uma série de barreiras regulamentares para colocar um produto no mercado.
De maneira geral, é preciso que as organizações se atentem mais para a questão animal e entendam que as pessoas não querem mais consumir produtos que sejam nocivos ao ambiente. Que busquem novas alternativas, desenvolvam produtos de qualidade, não só em termos de ingredientes, mas sem crueldade, e comecem a criar essa conscientização, dando pequenos passos em direção a uma mudança de cultura.
Depois da viralização do curta-metragem ‘Salve O Ralph’ várias empresas entraram em contato com a SBV. Muitas já com produtos consolidados, mas testados em animais. Leva um tempo até a empresa mudar a sua cultura e padrão para reformular a produção. Ainda assim, foi muito bacana sentir esse movimento tanto de companhias antigas quanto novas procurarem informações e sugestões em relação ao novo consumidor.
Confirma a matéria na íntegra publicada no jornal O Estado de S. Paulo: