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11/05/2025

Impactos ambientais e éticos da produção de ovos e leite: Uma reflexão para o Dia das Mães

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A produção e o consumo de alimentos exercem um impacto ambiental significativo em escala global, sendo responsáveis por um terço das emissões antropogênicas de gases de efeito estufa (GEE). No Brasil, esse cenário é ainda mais preocupante, com o setor alimentar respondendo por 73,7% das emissões brutas totais em 2021. Essa realidade demanda uma transformação urgente nos sistemas alimentares para salvaguardar a saúde do planeta e da população.

Em celebração ao Dia das Mães, que acontece neste domingo, 11 de maio, este mês analisamos o impacto das indústrias de laticínios e ovos. Além da questão ambiental, essas indústrias levantam importantes dilemas éticos, especialmente no que concerne ao tratamento das fêmeas. A busca por produtividade da indústria pecuária negligencia os laços maternos naturais e compromete o bem-estar animal, uma reflexão particularmente relevante nesta data dedicada ao cuidado e ao respeito.

Produção de laticínios

Em 2021, as emissões do rebanho leiteiro no Brasil atingiram 53,0 MtCO2e, representando 11,1% das emissões totais do setor pecuário no país. Para contextualizar, esse volume de emissões equivale ao impacto anual de aproximadamente 11,5 milhões de veículos – considerando que cada carro emite, em média 4,6 ton CO2eq/ano. As principais fontes de emissão na produção de leite incluem a fermentação entérica do gado, que libera metano (CH4), e o manejo dos dejetos animais, que libera óxido nitroso (N2O).

Ademais, a cadeia produtiva do leite gera emissões consideráveis em outras etapas. A produção de ração, altamente dependente de insumos agrícolas como milho e soja, eleva a pegada ambiental deste setor. Consequentemente, a mudança de uso da terra, impulsionada pelo desmatamento para a criação de pastagens e áreas de cultivo de ração, emerge como um vetor crucial de emissão nos sistemas alimentares brasileiros e contribui significativamente para o desmatamento de áreas naturais. Logo, a expansão dessas indústrias resulta na perda de biodiversidade e no desequilíbrio de ecossistemas inteiros.

Como resultado, um estudo de Poore & Nemecek (2018) estima que a produção de um litro de leite de vaca gera cerca de 3,2 kg de CO2eq. Em contraste, alternativas vegetais como leite de amêndoa, aveia, soja e arroz apresentam uma pegada de emissões significativamente menor. O leite de soja, por exemplo, possui uma pegada de carbono de apenas 0,6 kg de CO2eq por litro, demonstrando sua maior viabilidade ambiental.

Produção de ovos

A produção de ovos, especialmente em sistemas intensivos como as gaiolas em bateria, equivalente a 95% da produção de ovos no Brasil, acarreta impactos ambientais relevantes. Um estudo de Avaliação de Ciclo de Vida – ferramenta utilizada para analisar todo o processo produtivo – sobre a produção de ovos em gaiolas no Brasil identificou os principais fatores de impacto ambiental: a formulação da ração e o manejo dos dejetos. A produção da ração, baseada em milho e soja, destaca-se como especialmente relevante devido à sua contribuição para o desmatamento e suas consequências ambientais, conforme abordado no item anterior.

O manejo dos dejetos das aves também desempenha um papel crucial, contribuindo para as emissões de GEE. O esterco de frango, que contém de 2 a 4 vezes mais nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, em comparação ao esterco de outros animais, propicia a maior liberação de óxido nitroso (N2O), um gás de efeito estufa com um potencial de aquecimento global 300 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2) e uma longa permanência na atmosfera, contribuindo também para a destruição da camada de ozônio.

Diante desses fatores, Poore & Nemecek (2018) estimam a emissão de 4,2 kg de CO2eq a cada 100g de proteínas. Considerando uma população global de galinhas poedeiras superior a 8 bilhões, a magnitude do impacto ambiental se torna evidente.

Implicações éticas e a crueldade contra fêmeas

Neste Dia das Mães, a reflexão sobre os impactos da nossa alimentação nos direciona inevitavelmente ao tratamento das fêmeas nas indústrias de laticínios e ovos. As vacas são submetidas a um ciclo exaustivo de reprodução para garantir a produção contínua de leite. A inseminação artificial forçada e repetida é uma prática comum, desconsiderando o bem-estar animal. O laço materno é frequentemente interrompido pela separação precoce dos bezerros de suas mães, causando sofrimento para ambos. As vacas leiteiras, muitas vezes confinadas em espaços restritos, são tratadas como máquinas de produção, em detrimento de suas necessidades e instintos maternos.

Na indústria de ovos, as galinhas poedeiras são criadas para uma produção incessante de ovos. Em sistemas intensivos, como as gaiolas em bateria, elas são privadas de espaço para expressar comportamentos naturais. Mesmo em sistemas alternativos ditos como mais “sustentáveis”, a exploração do corpo feminino para a produção em massa levanta questões sobre o respeito ao bem-estar animal, uma preocupação que se estende a diversas outras fêmeas em sistemas de criação, como porcas e búfalas.

Alimentação vegana: Uma alternativa alinhada ao cuidado

Diante dos impactos ambientais e das questões éticas relacionadas à produção de ovos e laticínios, a adoção de uma alimentação vegana surge como uma escolha alinhada aos valores de cuidado e respeito celebrados no Dia das Mães. Optar por alternativas vegetais é um ato de compaixão que abrange todas as formas de vida, incluindo as mães do reino animal.

Ao escolhermos alimentos veganos, contribuímos para a redução das emissões de GEE e do desmatamento, mas também com a redução da exploração animal. Celebramos, assim, não apenas as mães humanas, mas também reconhecemos o valor e a senciência de mães não-humanas, promovendo um futuro onde o cuidado e o respeito fundamentam nossa relação com o planeta e com os outros seres vivos. Neste Dia das Mães, a SVB deseja que essa data seja um convite à reflexão e a escolhas que honrem a maternidade em todas as suas formas.

 

Autora: Julia Lopes

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